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A liberdade econômica no mundo em 2018

Todo o estudo da economia se iniciou de uma tentativa de entender o que faz com que algumas regiões do mundo sejam mais prósperas do que outras.

Em 1776, Adam Smith escreveu sua magistral obra Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações.

Pensadores anteriores a ele já haviam tratado de assuntos que hoje colocamos sob o escopo desta ciência, mas o trabalho de Smith desencadeou uma discussão acadêmica que perdura até hoje, tanto para responder a essa questão inicial quanto para responder a tantas outras que foram sendo descobertas ao longo do processo. E é a essa discussão, e a toda a pesquisa que a acompanha, que chamamos de ciência econômica.

Infelizmente, as causas da riqueza das nações ainda são largamente ignoradas por políticos e pela população em geral. As pessoas estão sempre à procura, entre seus semelhantes, de alguns que irão desempenhar o papel de condutores da economia rumo à prosperidade. Um grupo que saiba quais são os setores estratégicos, quais serão os produtos do futuro, quem são os empresários competentes e honestos — para então oferecer-lhes benefícios que os mantenham produzindo para o bem da população.

Mas a economia é uma orquestra que dispensa maestro. Os produtores querem obter lucros altos, e para isso precisam produzir aquilo que a população quer comprar. Aqueles que adivinham corretamente o que a população quer, vendem bastante, crescem, e produzem mais. Aqueles que não adivinham tão bem fecham as portas e, com isso, liberam mão-de-obra e capital para produtores que entendem melhor as necessidades da população.

Querer que haja um maestro para dar ordens é algo que só prejudica esse formidável processo de constante aperfeiçoamento da produção econômica visando àquilo que a população procura.

Todas as regiões do mundo que hoje são consideradas ricas — aquelas para onde todos os trabalhadores pobres buscam migrar — assim se tornaram depois de um prolongado período de liberalismo na economia. E, de forma geral, continuam sendo regiões onde as decisões econômicas menos sofrem interferência do processo político.

Academia Liberalismo Econômico, por mim presidida, traduziu e publicou a edição 2018 do índice Liberdade Econômica no Mundo, elaborada pelo Instituto Fraser. O índice levanta 42 variáveis — todas elas fornecidas por instituições externas — que medem o grau de liberdade econômica de 162 países e regiões pelo mundo. Variáveis como impostos, burocracia, regulamentações, restrições ao empreendedorismo, tarifas de importação, flexibilidade do mercado de trabalho, facilidade de abrir uma empresa, moeda forte, liberdade de investimentos, instituições confiáveis, respeito à propriedade privada etc.: tudo isso ajuda a definir o grau de liberdade econômica de um país.  

Agregando todas essas variáveis, é possível precisar quais são as economias mais ou menos livres do mundo.

Todos estes dados também estão disponíveis em português.

O que podemos aprender com este índice

relatório que acompanha sua publicação é riquíssimo em dados e análises. No entanto, quero trazer aqui alguns destaques para servir de aperitivo ao leitor.

O Quadro 1.5 do relatório traz a renda média per capita por cada grupo de países.

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Quadro 1.5: Liberdade Econômica (quanto mais à esquerda, menos livre) e Renda per Capita

Para compor os grupos, o Instituto Fraser calculou a pontuação média de cada país no índice desde 1995, e depois separou-os em quatro grupos iguais em tamanho. Para este quadro, ele também calculou a renda média per capita dos países de cada grupo.

O resultado é que, nos países mais livres, o indivíduo médio conta com uma renda quase oito vezes maior — para adquirir alimentos, vestuário, moradia, tratamentos médicos e o que mais precisar — que os países menos livres.

Interferências dos governantes na economia custam caro a seus cidadãos, particularmente aos cidadãos pobres. Para o quadro seguinte, o Instituto Fraser compara a renda média dos 10% mais pobres de cada país. A diferença se mantém ao redor de oito vezes entre o primeiro e o último grupo — em favor da população pobre dos países mais livres.

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Quadro 1.7: Liberdade Econômica e Renda Recebida pelos 10% Mais Pobres

Ou seja: se você está entre os 10% mais pobres do seu país e vive em um dos países menos livres do mundo, você terá de se virar com US$ 1.345 por ano. Já se você está entre os 10% mais pobres do seu país, mas vive em um país economicamente livre, você terá uma renda anual de US$10.660.  Este detalhe não é nada insignificante.

A diferença de renda entre os grupos é tão gritante que nem mesmo um cidadão de renda média em um país menos livre (como o Brasil) vive melhor do que um cidadão pobre em um país mais livre (como Portugal).

Logo, a conclusão é que políticas econômicas entre países são muito mais importantes para se determinar o padrão de vida de um indivíduo do que as classes sociais dentro de seu país.

Outro gráfico que chama a atenção é o da mortalidade infantil:

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Quadro 1.9: Liberdade Econômica e Taxa de Mortalidade Infantil

Em 1800, a taxa de mortalidade infantil em qualquer região do mundo estava acima de 300 crianças mortas até os 5 anos de idade para cada mil nascidas vivas. Para os padrões atuais, não havia país rico — todos os países eram pobres.

Agora, observe o progresso alcançado pelos países economicamente livres em apenas duzentos anos. Esse número foi reduzido de 300 para 6,28. Felizmente, os países menos livres também progrediram, mas, infelizmente ainda estão no meio do caminho. Em alguns países esse número ainda permanece acima de 100. Mas a tendência é de melhora.

Não há truques

Todos os resultados acima se mantêm se olharmos as diferenças entre os países mais e menos livres, porém restringindo a amostra somente para países pequenos. Ou seja, os dados acima não decorrem de uma deturpação estatística gerada por “países grandes”, os quais, simplesmente por serem grandes, afetam os resultados gerais.

Ademais, os mesmos resultados também são observados se pegarmos apenas o grupo dos países menos livres e analisarmos os países mais livres e os menos livres que pertencem a este grupo. Dentro do grupo dos países menos livres, as economias que possuem mais liberdade apresentam indicadores sociais e econômicos melhores do que os das economias menos livres.

Ou seja, no mínimo, a teoria da “exploração internacional” não se sustenta.

O caminho a ser trilhado

A liberdade econômica traz prosperidade, que por sua vez traz avanços na medicina, na produção de alimentos, e na produção de todas as outras coisas de que necessitamos ou desejamos.

Por motivos óbvios, não vou trazer o relatório inteiro para este curto artigo (aqui está o relatório completo traduzido em português, e aqui estão todos os dados); o objetivo é ressaltar a importância de esses números serem analisados, compreendidos e divulgados. Trata-se da boa teoria econômica sendo constatada na prática.

Todos queremos viver em um mundo com maior abundância de recursos e mais qualidade de vida. Mas não basta saber aonde queremos chegar; é preciso descobrir como chegar.

https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=3000&fbclid=IwAR3Eo9G5X-H1zdPVdZ4JqRWdtJyoyhH52nn_KfP8chQ3qpsASxYaKx89EYQ

By SANTANA

Jornalista/ Bacharel em Ciência Política / Sociólogo/ Gestor em Segurança Pública e Policiamento / Pós graduado em Sociologia e Política de Segurança Pública

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