Por G1 Vale do Paraíba e Região 06/01/2019
Irmão faz desabafo em vídeo ao ver pai ter que abrir cova para enterrar filha em Piquete
Um pai teve que abrir uma cova para enterrar a filha neste sábado (5) após, segundo relato do filho dele, os coveiros do cemitério de Piquete (SP) se recusarem a fazer o serviço porque supostamente não teriam permissão. O caso foi registrado em vídeo como um desabafo e publicado nas redes sociais (veja vídeo acima). A prefeita da cidade contesta a versão da família, mas informou que vai apurar o caso. (leia mais abaixo)
No registro publicado na internet, Diego Amaral mostra ao fundo o pai, acompanhado de outro filho, cavando no túmulo enquanto ele explica a situação. É possível identificar um coveiro ao fundo.
“Estou aqui para mostrar para vocês o que está acontecendo no cemitério de Piquete. Aqui quem está abrindo o buraco: meu pai e meu irmão. Sendo que minha irmã faleceu no dia de hoje”, disse em trecho.
Jéssica Vieira de Queiroz tinha síndrome de down e morreu na Santa Casa de Lorena — Foto: Arquivo pessoal
Jéssica Vieira de Queiroz tinha 23 anos e morreu de insuficiência renal na madrugada de sábado na Santa Casa de Lorena. O corpo foi preparado por uma funerária para o velório que aconteceu na casa da mãe da jovem em Piquete.
O caso tem repercutido nas redes sociais entre moradores da cidade.
Caso tem repercutido nas redes sociais entre moradores de Piquete — Foto: Reprodução/ Facebook
“Chegamos no cemitério e estava fechado, por volta das 10h. A gente tentou correr atrás da prefeita. Como a cidade é pequena, é comum isso, a gente sabe onde é tudo aqui. Ela estava na porta da casa da irmã e mandou irmos atrás do engenheiro, que é responsável pelo cemitério”, conta Diego.
O irmão conta ainda que foi até a casa do engenheiro e não o encontrou. Após não conseguir resolver o problema, a família procurou por um vereador que acionou um dos coveiros do cemitério para ir até o local abrir o portão, mas não poderia fazer o serviço. “Chegando lá, o coveiro disse que não podia fazer nada porque não tinha ordem para trabalhar”, disse.
O funcionário teria indicado à família o telefone de um segundo profissional. “Falamos com ele por telefone e ele queria cobrar R$ 250 para fazer o trabalho no particular. Ficamos indignados. Eu, meu pai, meu irmão e meu tio começamos a cavar a cova. A única coisa que o coveiro ajudou foi segurar a corda para descer o caixão”, disse.
O caso gerou revolta nos familiares. “Foi muito difícil para todos, mas para o meu pai, que é idoso, principalmente. Perder a filha e ele mesmo ter que enterrar. A gente nem ficou no velório”.
O que diz a prefeita
Procurada pela reportagem, Teca Gouvêa (PSB) disse que contesta a versão da família, mas informou que vai apurar o caso. “Vou apurar do ponto de vista administrativo, vamos chamar as pessoas e também vamos pedir a apuração da Justiça. Acho que estão aproveitando a situação para denegrir do ponto de vista moral a minha imagem”.
Ela disse que os coveiros fazem plantões para atender enterros aos finais de semana e que não deu nenhuma ordem para que deixassem de trabalhar. Sobre o funcionário que aparece no vídeo, que assiste os familiares abrindo a cova, ela disse que eles não têm permissão de atuar em túmulos particulares. Questionada se a proibição vale somente para reformas em túmulos ou também para enterros, ela disse não ter conhecimento.
“Isso que vou apurar na segunda-feira. Eu não quero dar resposta porque eu acho essa questão uma questão grave. Se ele recebeu ordem de alguém, eu quero saber qual é essa ordem. Qual os detalhes, senão, eu estou fazendo um pré-julgamento de um funcionário. Não quero agir de forma injusta”.
Teca ainda disse que após indicar que os familiares procurassem o engenheiro que responde pela área, eles não voltaram a procurar por ela. Diego Amaral disse que a família vai registrar um boletim de ocorrência nesta segunda-feira (7) e abrir um processo contra a prefeitura.