A NÃO TÃO CONHECIDA HISTÓRIA DO BATALHÃO DE MULHERES NEGRAS DA SEGUNDA GUERRA
Lidando com racismo e segregação, a unidade de afro-americanas foi a principal ponte entre os soldados na Europa e suas famílias nos Estados Unidos
ISABELA BARREIROS, SOB SUPERVISÃO DE THIAGO LINCOLINS
Durante a Segunda Guerra, cerca de 6.500 mulheres afro-americanas se alistaram e serviram pelos Estados Unidos na Europa. Embora o patriotismo fosse um grande motivo, o que unia os sentimentos do país, o racismo ainda mostrou-se explícito, em uma segregação persistente.
Segundo a CNN internacional, mesmo quando mulheres negras puderam se alistar, a partir de 1942, já a três anos do fim da guerra, elas foram submetidas às mesmas situações de discriminação. Acomodações e treinamentos eram feitos em lugares diferentes de homens e mulheres brancos, assim como as refeições.
Essa diferença de tratamento também pode ser observada no Cemitério e Memorial Americano da Normandia, que fica em Colleville-sur-Mer, na França. Lá, estão enterrados cerca de 9.400 soldados americanos que morreram na Europa durante a Segunda Guerra, sendo esta uma homenagem às tropas.
Apenas quatro mulheres foram sepultadas no cemitério. Entre estas, três delas são negras. E suas histórias são tão impressionantes que, em 2019, elas receberam Comenda de Unidade Meritória do Exército e muitos ainda pedem que o batalhão receba a Medalha de Ouro do Congresso.
6888th Central Postal Directory Battalion
O 6888º Batalhão do Diretório Postal Central foi formado exclusivamente por mulheres negras dos Estados Unidos, o único do Exército de Mulheres Negras que foi enviado para a Europa durante o conflito mundial. A unidade incluia Pfc.(soldado de primeira classe, em tradução livre) Mary J. Barlow, Pfc. Mary H. Bankston, Sgt. (sargento) Dolores M. Browne e outras.
“Mary McLeod Bethune [educadora e ativista negra] e a primeira-dama Eleanor Roosevelt disseram que as mulheres precisavam de uma missão significativa para provar que as mulheres negras podiam apoiar as Forças Armadas da mesma forma que as mulheres brancas”, explicou ao veículo Edna Cummings, embaixadora do Exército americano que co-produziu um documentário sobre o batalhão.
As mulheres lidaram com uma questão às vezes não tão lembrada da guerra: as correspondências enviadas por soldados às suas famílias que ficaram em seu país natal. Elas eram a ponte que ligava os combatentes exaustos, que narravam tudo em suas cartas, aos seus entes queridos.
Mas o trabalho não era simples, afinal, muitas mensagens deveriam ser enviadas naquele período. De acordo com dados coletados pelo Centro de História Militar do Exército dos EUA, o batalhão foi responsável por processar cerca de 65 mil correspondências por turno, o que, no total, é mais ou menos 6 milhões de cartas por mês.
Muitos desses papeis foram se acumulando ao longo dos anos, não sendo enviados quando deveriam. Eles foram primeiramente enviados para a Inglaterra, onde encontraram pilhas de cartas em hangares e armazéns, em fevereiro de 1945, comandadas pela Maj. (major) Charity Adams.
O acúmulo aconteceu pois faltava pessoal no sistema de correio, mas o trabalho do batalhão resolveu o problema que deveria durar seis meses em apenas três. Depois disso, as moças foram enviadas para Rouen e Paris, na França, onde continuaram sua importante missão.