Massacrada pela esquerda, a juíza Ludmila Lins Grilo está simplesmente demonstrando o óbvio para a população brasileira
“Que parecer termine em ser somente.
O único imperador é o imperador do sorvete.”
(Wallace Stevens)
O tempo é um juiz implacável, mas paciencioso. Só conseguiremos ter noção do que aconteceu com o mundo durante a pandemia quando estivermos à segura distância de alguns anos. Tal como ocorre com o personagem Fabrizio Del Dongo, que participou da célebre Batalha de Waterloo sem nada compreender do episódio histórico que se desenrolava aos seus olhos, é quase impossível, para nós cidadãos comuns, ou mesmo para indivíduos com percepção e sensibilidade acima de média, encontrar o sentido em todo o drama existencial do qual participamos hoje.
Contudo, às vezes aparece alguém que consegue colocar em perspectiva histórica ― ou seja, aquela que se prolonga para além da vida de uma pessoa ― o acontecimento presente. São essas raras pessoas, capazes de suplantar os limites do imediatismo e enxergar a realidade com os olhos do coração, que fornecem os elementos para que futuramente possamos derreter a aparência das coisas e entender o que de fato é.
A juíza Ludmila Lins Grilo é uma dessas pessoas. Com gestos aparentemente banais ― tomar um sorvete passeando pelo shopping, comer uma pizza no restaurante, festejar o Ano Novo com uma amiga na praia ―, ela despertou a histeria, o veneno e a fúria das classes falantes brasileiras, sobejamente conhecidas por praticar o “ódio de bem”.
Chesterton certa vez disse que chegaria o tempo em que seria necessário provar que a grama é verde. Pois então: chegamos ao tempo que nem mesmo a fecunda imaginação do sábio católico pôde prever: o tempo em que se tornou crime dizer que a grama é verde.
É de uma obviedade imensa que as medidas draconianas de lockdown e isolamento não se revelaram eficazes para conter a disseminação do vírus chinês. O foco deveria ser o tratamento precoce da doença e não a contenção do vírus. Medidas de isolamento e prevenção podem existir, mas não podem ser draconianas, ou seja, não podem impedir que as pessoas realizem as atividades mais básicas e triviais da vida. A normalidade que os coronalovers insistem em abolir é o que faz a diferença entre viver e simplesmente existir! Não se pode salvar vidas retirando das pessoas o sentido da vida: o amor, o trabalho, a fé, a superação do sofrimento.
Ludmila Lins Grilo chama também a nossa atenção para um aspecto fundamental: as medidas draconianas para combate à Covid-19 não encontram respaldo na constituição. A abolição do direito de ir e vir e do direito de reunião só é justificada em caso de estado de sítio decretado pelo presidente da República e aprovado pelo Congresso Nacional. Criminosos não são os que se reuniram com familiares, amigos e irmãos de fé no Natal e no Ano Novo, mas aqueles que tentaram impedir isso.
Curioso é que em nenhum momento a juíza se referiu ao vírus; o que ela tematizou foi a estupidez humana. Do mesmo modo, ela saiu em defesa do direito de reunião (ou aglomeração, se preferirem) para quem quiser e se sentir seguro. Exatamente o que fazem muitos coronalovers ― quando ninguém está olhando, é claro.
O sentido da vida não pode ser substituído pelo sentido do vírus. É isso que a juíza Ludmila está dizendo. E é por isso que tantos querem calá-la.
― Paulo Briguet é cronista e editor-chefe do BSM.
https://brasilsemmedo.com/o-sentido-da-vida-e-o-sentido-do-virus/?s=09