A busca de soluções para a escassez de água em várias regiões do planeta inclui o aprendizado das antigas culturas à tecnologia de ponta. Em Israel, um país cujo território é formado em 60% por áreas desérticas, a água é suficiente para suprir as necessidades da população e ainda abastecer diariamente os países vizinhos, como Jordânia e Palestina.
A água consumida pelo povo israelense vem em sua grande parte do processo de dessalinização. Apesar de ser uma alternativa de valor mais alto, o governo fez essa escolha pelo acesso mais próximo ao mar. O sistema de tratamento deu tão certo que o consumo de água mineral é baixíssimo. “As pessoas confiam na limpeza da água, por isso tomam água da torneira mesmo”, explicou.
A relação entre o governo e a água é um ponto importante na opinião do advogado. “Nos países onde existe boa governança, o problema da água está praticamente controlado”, afirma. Em 1959, Israel aprovou a Lei da Água para assegurar o abastecimento da população. Entre outras questões, o Estado estabeleceu que o dono da terra não é o dono da água, ela pertence ao governo. A precificação da água e o valor arrecadado são aplicados na melhoria da infraestrutura hídrica e rede de abastecimento.
A tecnologia tem um papel central nessa jornada. Segundo o escritor, que foi a Israel para ver de perto o que tem sido desenvolvido, existem algumas inovações que contribuíram muito para chegar nesse momento.
Uma delas foi reutilização da água do esgoto para uso na agricultura. “Quando a infraestrutura hídrica foi desenvolvida, apesar de a água reutilizada ser própria para o consumo, a população não queria beber, então a opção foi utilizar na agricultura”, explicou o advogado. Falando sobre o Brasil, ele apontou que a falta de saneamento básico é um dos maiores problemas do país. Segundo ele, cerca 40% dos resíduos não são tratados e cerca de 10% nem sequer são coletados.
O sistema de irrigação por gotejamento é outra inovação importante. A agricultura é uma das atividades que mais consome água e encontrar uma maneira que permita ao agricultor irrigar sua plantação e distribuir os elementos nutritivos de uma maneira uniforme e eficiente, foi revolucionário.
Em sua palestra, Seth M. Seigel disse que mesmo em áreas mais desenvolvidas do país, como São Paulo, ainda há muito a fazer. “A Sabesp é uma das maiores companhias do setor [responsável pela concessão dos serviços públicos de saneamento básico no Estado de São Paulo] e poderia fazer um trabalho muito melhor, apesar de ser notável o que eles fazem”, apontou.
Comparando a utilização de recursos nos dois países, Seigel citou a utilização de algoritmos para conter vazamentos. “Em São Paulo, um terço da água tratada é utilizada”, disse. Segundo ele, em Israel a água é monitorada e a tecnologia contribui para descobrir onde está o vazamento.
Sabesp
A Sabesp emitiu uma nota em relação ao assunto. “Em relação à reportagem “Como tecnologia e educação ajudaram a resolver a falta de água em Israel”, a Sabesp informa que está errada a informação de que “Em São Paulo, um terço da água tratada é utilizada”. O índice atual de perda por vazamento da Sabesp é de 21%, abaixo da média nacional e menor do que a França, por exemplo, que tem índice de 26%.
O programa de redução de perdas da companhia é permanente. A Sabesp obteve um financiamento para executar obras de melhoria e renovação da infraestrutura, incluindo a substituição de um total de 640 km da extensão da rede nos próximos três anos, com investimento total da ordem R$ 900 milhões.
Já sobre a atuação da empresa na área, a Sabesp ressalta que é a empresa que mais investe em saneamento no país, respondendo por mais de 27% de tudo que se aplica no setor no país, mesmo atendendo apenas 13% da população urbana. Somente em 2016, a empresa investiu R$ 3,9 bilhões.”